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Foto: Divulgação
O texto é da mestre em artes e autora do livro Pra Você, Criativo, Thais Boulange
A transformação de ideias abstratas em formas tangíveis é uma etapa essencial no processo criativo. Em suma, as ideias são a matéria-prima da criatividade. Portanto, pergunto: como você se conecta com suas ideias?
Antigamente, diziam: quem casa quer casa. No entanto, em tempos nômades, digitais, com mobilidade em ascensão, surge a indagação. Queremos casa? Queremos casar? No campo dos relacionamentos afetivos, as perguntas são um fato, desafiando visivelmente o coração de quem ama.
Estamos dispostos a descobrir e expressar nossa forma de viver com o outro. Mas e quanto à nossa relação com nossas ideias, com nossos pensamentos? Como anda esse vínculo entre você e a fonte de sua criatividade?
Existe espaço para compromisso? Você e suas ideias querem uma casa, ou preferem ter experiências por aí? Entraram em um relacionamento sério ou ficarão disponíveis em aplicativos, imersos no mundo virtual? Essas são decisões que frequentemente adiamos. Adiar, deixar para depois, é comum em escolhas importantes e com pessoas próximas, presenças garantidas.
Dada a proximidade que cada um tem consigo mesmo, o que é sem dúvida importante, frequentemente deixamos nosso relacionamento com os nossos pensamentos de lado, saindo pelo mundo resolvendo problemas e construindo castelos onde moram pensamentos alheios. Estamos ocupados, certamente, mas por quem? Qual ideia faz morada em nossos dias?
Atualmente, há um fluxo de informação confundido com o fluxo de ideias. No entanto, há diferenças que podem desfazer essa confusão. A principal é o afeto. Você ama uma ideia e utiliza uma informação. Podemos rolar a tela no celular, transitando de uma informação para outra com facilidade. No entanto, diante dos fatos verdadeiros sobre filhos, amigos e questões que nos importam, nos demoramos, comentamos, ponderamos, cuidamos… Isso é amor, e fica impossível rolar a tela.
Amar as próprias ideias é atravessar esse portal do afeto. Quando amamos alguém, temos a obrigação de educar esse sentimento, não cedendo a todos os desejos, mas também sem negligenciar, cuidando afetuosamente e ao mesmo tempo com responsabilidade. As ideias frequentemente são ricas, profundas, abundantes, até brilhantes; outras são tolas, desvairadas, abusivas, ilusórias, mas todas essas características exigem que sejamos responsáveis e conscientes do nosso relacionamento com elas.
Entendendo que uma lâmpada que se acende revela coisas que não víamos antes, cria sombras e pode ser intensa demais a ponto de cegar; tocar no interruptor é uma decisão que demanda atenção e tempo.
Ao amar e educar as próprias ideias, você valoriza a criatividade não apenas em momentos de crise ou paixões, mas a incorpora no dia a dia, como uma habilidade constante e treinável. Isso assusta? Claro que sim. Contudo, da mesma forma que não saímos casando com quem não conhecemos, é melhor levar sua ideia para passear primeiro, verificar se “dá match”, como dizem, e seguir para as próximas decisões. Se terão uma “casa” ou não dependerá do relacionamento. Bons passeios!
Crédito:
Thais Boulanger, mestre em artes e autora de Para Você, Criativo (Hanoi Editora).