• 21 de novembro de 2024

Especialista fala sobre a felicidade transmitida por moléculas

Por Camila Capel*

 

Buscar a felicidade virou debate nas universidades e o tema invade as prateleiras das livrarias. Esta procura também fala sobre a fuga de algum tipo de sofrimento humano, como se a ausência de algo pudesse fazer a felicidade operar.

Assim, ao invés de nos aproximarmos dela, as pessoas pensam no futuro, em que haverá felicidade, ou no passado, envolto a memórias de quando se achavam mais felizes. Desta forma, crenças vão sendo alimentadas e ajudam a identificar quando situações de possível sofrimento quiserem se aproximar novamente. Infelizmente, isso é um problema, pois a mente está deslocada do único momento em que de fato se pode ser feliz: no presente.

A ciência trouxe possibilidades de assimilar cada vez mais o que é a felicidade. Ela engloba estudos do cérebro, bioquímica e toda a movimentação neural provocada pelas emoções. Entender os componentes químicos e estruturais envolvidos em sentimentos — como compaixão, gratidão e amor —, que fazem parte da felicidade, nos faz compreender como o corpo age nestes estados, mas ainda existe uma lacuna: como “colocá-los” para dentro? Será que a felicidade seria algo puramente molecular?

Para entender sobre isso, é necessário compreender que a presença de neurotransmissores na corrente sanguínea gera sensações no corpo, mas a mente é essencial para interpretar e comunicar essas experiências. Por exemplo, qual a diferença entre a adrenalina disparada quando se está em uma montanha-russa em alta velocidade, que faz todos sorrirem de felicidade, e a mesma adrenalina que corpo experimenta ao passar por um assalto, onde o sentimento é medo?

O neurotransmissor é o mesmo, mas o cérebro e o aparato informam que a primeira situação é de alegria e a segunda é um risco. Em ambos os casos, para o corpo, nada muda, quando a adrenalina sobe, ele se prepara para lutar ou fugir. Quando cérebro diz que não é uma situação de risco, o sistema corre para frear a descarga.

As emoções primárias existem em todos, mas, na maioria das vezes, o cérebro racional acalma as emoções. Porém, toda vez que sentimos uma emoção, ainda que este circuito da razão aconteça, paralelamente, corre um circuito ainda mais rápido, o do sistema nervoso autônomo (SNA), que acontece em duas vias, simpática e parassimpática. Este sistema é regido pelas emoções e não pela razão, portanto, mesmo que racionalmente pareçamos manter o equilíbrio, a descarga gerada pelas emoções primárias fica circulando em nosso corpo e altera nossa fisiologia.

Quando há uma explosão bioquímica, uma emoção, o sistema nervoso autônomo envia para o corpo uma resposta baseada no que se sente e não no que se pensa. São milésimos de segundo entre o sentir e codificar, porém, a resposta fisiológica é imediata. Além disso, não é necessário vivenciar uma emoção para essa liberação de carga acontecer.
Os pensamentos não possuem a relação tempo-espaço, sendo assim, lembrar ou imaginar algo ruim faz com que o corpo sinta que aquilo é real. A mente consegue entender a imaginação, mas o corpo, não, e ele obedece às emoções.

Portanto, pode-se concluir que o sistema nervoso autônomo também responde aos estímulos de alegria e bem-estar e envia para o corpo sinais de que tudo está bem. Isto abre um ponto de vista positivo. Se o sentir pode mudar a fisiologia, é possível utilizar desta inteligência para imaginar e sentir coisas boas, obtendo ganhos para o corpo.

Deste modo, obter alívio, conforto, plenitude, satisfação e alegria a partir da evocação de boas lembranças, provocam bons sentimentos e sensações, influenciam o sistema nervoso autônomo e a saúde na totalidade, garantindo o que todos procuram: a felicidade no presente.

*Camila Capel é psicopedagoga especialista em educação parental, fundamentada na pedagogia Waldorf e Antroposofia, facilitadora de processos de autodesenvolvimento, meditação e mindfulness e autora dos livros “A Mala do Opa” e “Vamos falar sobre a Vida”.

 

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