• 21 de novembro de 2024

Esteatose hepática: doença é pouco conhecida, mas afeta 3 a cada 10 pessoas no mundo 

Foto: Divulgação

Caracterizada pelo acúmulo de gordura no fígado, condição é silenciosa e pode evoluir negativamente para casos de cirrose e até câncer no órgão

 

Apesar do nome difícil, a esteatose hepática metabólica está presente na vida de cerca de 30% da população mundial e se caracteriza pela presença de mais de 5% de gordura no fígado.

O órgão desempenha diversas funções importantes no organismo, como a filtragem do sangue e eliminação de toxinas, além da produção de proteínas, metabolismo de medicamentos e de gordura, regulação da coagulação sanguínea, entre outros.

Popularmente conhecida como “gordura no fígado”, a esteatose hepática é silenciosa e, se não tratada, pode evoluir desfavoravelmente. Em casos avançados e crônicos, os pacientes podem apresentar sintomas como dor no lado direito da barriga, cansaço, amarelo nos olhos e aumento do volume abdominal.

“Dados apontam que cerca de 25% dos pacientes evoluem para uma hepatite por gordura (esteato-hepatite) e a partir daí, para formação de fibrose/cirrose. Há ainda um risco aumentado de aparecimento de carcinoma hepatocelular (câncer de fígado). Em alguns países da Europa e nos Estados Unidos a doença já é uma das principais indicações para transplante de fígado”, enfatiza Bianca Della Guardia, hepatologista e Coordenadora Clínica do Transplante de Fígado da Rede D’Or.

De acordo com a especialista, muitas vezes a esteatose hepática é subdiagnosticada e subvalorizada. “Devido à falta de sintomas e impacto direto na qualidade de vida, o paciente muitas vezes não dá importância. No entanto, hoje sabemos que em estágio crônico, a doença pode levar a morte por complicações cardiovasculares relacionadas, neoplasia (câncer) e doenças de fígado. É uma epidemia silenciosa e precisamos agir agora para disseminar conhecimento e evitar a progressão dessa doença e suas complicações”, destaca.

Os principais grupos de risco da esteatose hepática metabólica são pacientes com a presença de diabetes tipo 2, obesidade ou sobrepeso, dislipidemia e hipertensão arterial sistêmica. “Mas atenção, pacientes magros com fatores de risco genético também podem apresentar a doença”, complementa Bianca.

Outro alerta é que, em decorrência da piora do estilo de vida, a doença vem atingindo pessoas cada vez mais jovens. Pesquisa da American Association for the Study of Liver Diseases (Associação Americana para o Estudo de Doenças do Fígado), apontou que a América do Sul foi o continente que registrou o maior aumento relativo de adolescentes com a doença, 39,2% em 29 anos.

Apesar de assintomática na sua fase inicial, a presença da gordura no fígado pode ser detectada por meio de exame de ultrassom de abdome ou de sangue, que avalia a presença de alterações de enzimas hepáticas.

“São exames que podem ser facilmente inseridos em check-ups anuais, principalmente para pacientes mais susceptíveis. Ao notar qualquer alteração nos resultados, é importante checar com o médico ou pedir um encaminhamento para especialista”, explica a hepatologista da Rede D’Or São Luiz, que conta com uma linha de cuidado completo para doenças hepáticas, com especialistas, equipe multiprofissional, exames diagnósticos e tratamento, indo até a fase final de transplante de fígado.

Em casos mais complexos ou avançados, pode-se fazer uso das elastografias hepáticas para medir a quantidade de fibrose, e, eventualmente, biópsia hepática.

O tratamento tem como pilares fundamentais a adoção de um estilo de vida mais saudável, com melhora da dieta, prática diária de atividade física e evitar o consumo de álcool, além do controle dos fatores metabólicos associados.

“Para pacientes com diabetes ou sobrepeso, a principal indicação é perder peso, pois estudos demonstram que a perda de mais de 10% do peso pode contribuir para a regressão da inflamação e fibrose hepática”, enfatiza Dr. Marcio Dias de Almeida, Coordenador Clínico do Transplante de Fígado da Rede D’Or.

Os medicamentos prescritos geralmente têm como base o tratamento de doenças associadas, como diabetes, obesidade e pressão alta. Recentemente o Food and Drug Administration (FDA), agência americana, aprovou a primeira droga para tratamento da esteatose hepática metabólica nos pacientes com doença mais avançada, em associação com dieta e atividade física.

“Muitas outras classes de drogas estão em estudo e em um futuro próximo acredita-se que estarão disponíveis. Mas, o que podemos fazer agora é dar a devida atenção para essa condição quando diagnosticada, além de adotar uma postura preventiva e hábitos de vida mais saudáveis”, orienta Marcio Dias de Almeida.

Confira algumas dicas para prevenção da esteatose hepática:
– Leia os rótulos nutricionais para encontrar gordura, açúca e sódio ocultos;
– Tenha uma meta para adicionar frutas e legumes no seu dia a dia;
– Coma alimentos ricos em fibras, incluindo grãos integrais;
– Use azeite extravirgem com baixa acidez como principal gordura adicionada;
– Consuma peixe de 2 a 3 vezes por semana;
– Evite alimentos industrializados e ultraprocessados, prefira os naturais;
– Troque bebidas açucaradas e refrigerantes por água ou bebidas com poucas calorias;
– Afaste-se de fast-food e frituras;
– Evite o consumo de álcool;
– Pratique em média 60 minutos de exercícios físicos por dia.

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