• 22 de dezembro de 2024

Neurocirurgião comenta que o uso excessivo de telas pode causar “demência digital”

Foto: Canva

Dr. Antônio Araújo, da Clínica Araújo & Fazzito, comenta os malefícios do vício digital, que vem aumentando em todas as idades e impacta no desenvolvimento cerebral e na educação

Com o passar dos anos, vemos que o uso excessivo de telas vem aumentando, independente da idade. O vício, que parece inofensivo, pode gerar diversos problemas ao longo do tempo. Essa preocupação ganha destaque devido ao crescente uso de telas por crianças, adolescentes e adultos, levantando questões sobre os impactos no desenvolvimento cerebral e na educação.

De acordo com uma pesquisa realizada com crianças pelo Instituto de Pesquisa do Hospital Infantil de Alberta (Canadá), o uso de telas aumentou mais de 50% desde o ano de 2020, correspondendo a um acréscimo de uma hora e vinte minutos em média.
O neurocirurgião Dr. Antônio Araújo, da Clínica Araújo & Fazzito e membro do Corpo Clínico do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, alerta para os perigos do mau uso de dispositivos eletrônicos, popularmente conhecido como “demência digital”, que afeta o rendimento cognitivo dos usuários.

Diminuição do rendimento cognitivo
O uso excessivo de telas, principalmente em idades precoces, está relacionado à diminuição da função cognitiva. Crianças e adolescentes expostos a dispositivos eletrônicos têm dificuldades em manter a atenção na sala de aula, ler regularmente – com estatísticas indicando que apenas 30% das crianças do ensino fundamental leem diariamente -, e desenvolver habilidades de memorização.

“A exposição precoce a telas oferece estímulos intensos em termos de cores e sons, tornando desafiador competir pela atenção dessas crianças em ambientes educacionais tradicionais. Isso leva a uma geração de crianças distraídas e com dificuldades de aprendizado”, alerta o médico.

Impacto na memória e concentração
Além da distração, a dependência digital também afeta a memória e a concentração. “Informações consumidas de maneira superficial e sem conexões emocionais tendem a ser esquecidas rapidamente. A memória eficaz depende da associação de informações e do vínculo emocional com o conteúdo”, explica.

Atrofia cerebral e déficit de tela
A exposição excessiva às telas pode levar a atrofia cerebral, afetando áreas responsáveis pela memória e concentração. “Esse processo pode ser acelerado, especialmente em crianças e adolescentes, que passam em média 45% do tempo de vigília em frente a telas. No longo prazo, isso pode resultar em perda neuronal significativa”.

“Outro fenômeno observado é o “déficit de tela” na educação, onde a aprendizagem através de telas retém apenas cerca de 5% do conteúdo em comparação com a aprendizagem presencial, criando um desafio significativo para a educação”, complementa o Dr. Araújo.

Impacto na Geração Z
Embora a geração Z, nascida entre 1990 e 2010, tenha crescido em um ambiente digital, qualquer geração que desenvolva uma dependência digital está em risco. O que importa é o nível de envolvimento e atenção dedicado às telas, aplicativos e redes sociais.

“Não é porque a geração Z cresce juntamente à tecnologia que eles possuem uma facilidade maior para o vício. Independente da idade, se você dedica muito tempo às telas, você está suscetível a isso”, esclarece o neurocirurgião.

Recomendações para um uso saudável
Para reduzir esses efeitos negativos, é importante estabelecer limites para o uso de dispositivos eletrônicos. Recomendações da Sociedade Americana de Pediatria incluem:
Abaixo de 6 anos: Proibir o uso de telas.
Entre 6 e 12 anos: Limite diário de 30 minutos a 1 hora.
Acima de 13 anos: Limite diário de 2 horas.
Redes sociais: Apenas acima de 16 anos de idade.

Além disso, é fundamental evitar o uso de telas antes da aula e antes de dormir, retirando a tela pelo menos duas horas antes de dormir. Evitar a presença de televisão no quarto e monitorar cuidadosamente o conteúdo acessado por crianças e adolescentes são medidas cruciais.

“O uso responsável de dispositivos eletrônicos é essencial para proteger a saúde cognitiva das gerações atuais e futuras, bem como para garantir um desenvolvimento educacional saudável e produtivo”, finaliza.

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