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Foto: Julieta Bachinn
Partindo do protagonista da tragédia escrita por Shakespeare, a peça é uma potente reflexão poética sobre a identidade do sujeito negro em diáspora
No próximo dia 30 de agosto entra em cartaz no Sesc Santana o espetáculo “Otelo, o outro”, uma releitura do clássico de William Shakespeare. Sedimentada no pensamento do psiquiatra e filósofo Franz Fanon, a montagem narra os efeitos da racialização da experiência humana. A distribuição desigual do afeto, e a constituição da subjetividade de maneira frágil e traumatizada são encenadas pelos atores Carlos de Niggro, Jefferson Matias e Kenan Bernardes, com direção de Miguel Rocha.
Partindo do protagonista da tragédia escrita pelo dramaturgo inglês, a peça é uma potente reflexão poética sobre a identidade do sujeito negro em diáspora. Otelo, o Outro é, pois, uma viagem interna, um mergulho em si mesmo em que o personagem vai se estranhando. Delírio, sonho ou pesadelo, essa viagem ou esse mergulho faz a personagem de Shakespeare encarar outros dois “Otelos” que o habitam e que o guiam num caminho tão intrincado quanto doloroso, que passa necessariamente por Desdêmona, mas percorre outras sendas, explorando ambiguidades e aporias da memória e da identidade afrodiaspóricas, marcadas pelo deslocamento social e cultural.
“Otelo, o Outro” representa um homem inventado como “negro” pelo olhar ocidental, um sujeito que se submete a esse olhar, tentando se integrar por inteiro – “de corpo e alma”, como se diz. O casamento com Desdêmona – uma mulher branca da elite – é a metáfora dessa entrega incondicional a um sistema de valores e a comportamentos que o estigmatizam como “o mouro”, ao mesmo tempo que se serve dele. A cegueira do ciúme é uma alegoria dessa apaixonada adesão. Sua corporeidade, portanto, é o índice e o limite que o separa irrevogável e irreversivelmente desse “Ocidente” que ele deseja literalmente incorporar. A releitura, porém, fala de uma consciência dividida que, aos poucos, mas não sem muita dor, vai percebendo a origem do conflito que a fustiga. Ela reflete também sobre os mecanismos que recalcam a ancestralidade inscrita no corpo, repugnada pela sociedade à qual o “mouro” aspira, caminhando para o desfecho trágico da morte – mas não da morte do corpo.
Nessa montagem – orientada sobretudo pelo pensamento de Frantz Fanon -, Otelo se expõe à ruptura com o discurso que o inventa exatamente como “homem negro”, ao mesmo tempo que ele recusa qualquer forma de tutela de sua consciência, inclusive aquela que lhe nega até o direito de odiar. Sem dar respostas, já que esse espetáculo procura mais provocar do que solucionar, Otelo, o Outro explora as contradições da própria consciência negra numa sociedade como a brasileira contemporânea. Sociedade hegemonizada pelo capitalismo neoliberal e pela indústria cultural pós-moderna, que sempre aspira ao “novo” sem enfrentar e superar o legado do escravismo colonial e de seu autoritarismo estruturante.
A peça fica em cartaz até 08 de setembro. Os ingressos estão disponíveis através do app Credencial Sesc SP, da central de relacionamento digital e presencialmente nas bilheterias das unidades do Sesc.
SERVIÇO
Temporada: De 30/08 a 08/09. Sexta e sábado, às 20h. Domingo, às 18h.
Dia 07/09, sessão às 18h.
Sesc Santana – Av. Luiz Dumont Villares, 579 – Jd. São Paulo.
Local: Teatro. 330 lugares. 16 anos.
Ingressos: R$ 60,00 (inteira), R$ 30,00 (meia) R$ 18,00 (credencial plena)
App Credencial SESC SP e centralrelacionamento.sescsp.org.br
Duração: 90 minutos.
Acesso para pessoas com deficiência
Estacionamento – R$ 17,00 a primeira hora e R$ 4,00 a hora adicional – desconto para credenciados.
Paraciclo: gratuito (obs.: é necessário a utilização travas de seguranças). 19 vagas
Para informações sobre outras programações, acesse o portal Sesc SP .