• 22 de fevereiro de 2025

Quando o amor vai te apagando

Em um dia marcado pelo capricho do destino,
Casei-me com um homem que parecia ser o mais divino.
Engano meu, como se respostas viessem em embalagem de presente,
Com o passar dos dias, ele se tornou a pergunta que eu nunca soube, de repente.

Antes de me encontrar com ele, eu era cheia de alegria,
Usava roupas elegantes, exalando pura harmonia.
Era chique, vibrante, dançava como uma gaivota,
Mas logo a liberdade se foi, como uma sombra que se nota.

Então, como um vento suave que esconde tempestades,
Ele apareceu, prometendo novas realidades.
“Teus olhos cor de mel são fascinantes”, disse com encanto,
Mas logo a doçura se revelou em pranto.

“Essas roupas são caras demais; opte pela simplicidade”,
De uma mulher elegante, fui a um quadro de banalidade.
Minhas roupas refinadas, agora em peças baratas,
E ele, com ironia, dizia: “Vulgar, essas são suas novas patas.”

Desprezando minha carreira, onde eu era uma estrela brilhante,
Comparando-me a outras, sempre colocando-as acima, mesmo distante.
Ele fazia isso para me apagar, me deixar sem voz,
E eu, tola e cega, não percebia o que ele fez à minha atroz.

Sem notar, fui me desvanecendo, um traço aqui, uma linha acolá,
Perdi amigos, livros, canções, tudo que me fazia sonhar.
“Por que demoras?” ele perguntava, “Por que lês tanto? Olhe para mim!”
E a cada exigência, eu me perdia, como um eco em um festim.

Ele começou a traçar minha história, como um autor sem compaixão,
Descrevendo meu corpo, minha mente, apagando minha canção.
Tornei-me uma figura em sua fábula, uma sombra sem cor,
E ao olhar no espelho, não via mais o esplendor.

Certa vez, enquanto dobrava uma camisa que ele nunca usaria,
Uma pergunta ecoou em meu ser: “Quem sou eu, em pura agonia?”
Essa interrogação martelava, como um tambor a soar,
E a voz que um dia ressoou se tornara um sussurro a chorar.

Foi então que percebi que não havia notado meu clamor,
Não, foi no silêncio, um abismo que trazia dor.
Sentia-me como uma heroína perdida em seu enredo,
À espera de um autor que me tirasse do degredo.

Ele não despojou minha identidade de uma só vez,
Roubou-me aos poucos, como um ladrão astuto, de vez.
E agora, aqui estou, só e, sim, com medo,
Porque não sei quem sou sem ele, mas estou decidida a ser um segredo.

Irei em busca de mim mesma, mesmo que os anos se arrastem,
Gritarei como a tempestade que, finalmente, não mais desgaste.
Cantarei como um pássaro que retoma o voo,
Voltarei a dançar, mesmo sem música, como antes, no meu show.

Porque prefiro ser uma versão quebrada de mim,
A uma imagem perfeita de outrem, que não me faz bem, enfim.
E, se necessário, enfrentarei a escuridão que se avizinha,
Pois mesmo no abismo, há espaço para a luz que aninha.
Que comédia essa vida, não é mesmo? Um teatro sem fim,
Mas o palco é meu, e agora, eu sigo, com garra e sem fim.

Psicóloga Walnei Arenque
Com 35 anos de experiência, dedicada a ajudar meus pacientes a enfrentar desafios emocionais e psicológicos. Minha abordagem é marcada pela responsabilidade, empatia e profundo engajamento em cada caso.
Sou psicanalista, com apoio a pacientes em estados depressivos graves, relacionamentos abusivos, problemas com ciúmes retroativos e de casais que planejam realizar inseminação artificial. Meu papel não é guiar a sua jornada, mas ajudar você a enxergar novos caminhos e ser sua própria bússola.

https://facebook.com/walnei.arenque
www.walneiarenque.com.br

Caso goste de meus textos, é só me seguir.

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