• 21 de novembro de 2024

Vergonha alheia

Foto: kieferpix/iStock

Chegamos ao nível insustentável de ver pessoas de vários perfis socioeconômicos, incluindo políticos e celebridades, defendendo abertamente as ações terroristas do Hamas

 

Não bastasse a terrível guerra deflagrada entre Israel e o Hamas (frise-se bem, não contra a Palestina), na qual presenciamos eventos inimagináveis que fariam um roteirista de filme de terror ficar aterrorizado, vemos um outro fenômeno igualmente abominável que, infelizmente, ganhou espaço nas mídias sociais – o apoio aos atos terroristas bárbaros do grupo Hamas.

É bem verdade que o Estado de Israel pratica alguns atos notoriamente considerados ilegais, e até desumanos, como é o caso da expansão dos assentamentos em local palestino, negação de direitos fundamentais básicos, privação de bens e serviços internacionais e até mortes de inocentes.

No entanto, é forçoso que entendamos também o lado de Israel, que sofre constantemente ataques covardes de grupos radicais palestinos. Por outro lado, Israel também incorporou a população árabe em sua sociedade, hoje contando com mais de 20% de habitantes considerados árabes. Muitos árabes ocupam posições de destaque na estrutura social e administrativa, como militares de alta patente, juízes (até ministro da suprema corte) e políticos.

Há um agravante das tensões que é o governo de extrema direita nacionalista de Israel que fomenta a crise ao adotar medidas autoritárias, xenofóbicas e preconceituosas. Existe um movimento político muito forte no Knesset (a Câmara Legislativa israelense) de conservadorismo ultraortodoxo que acaba por dificultar ainda mais qualquer chance de negociação de paz, causando atos inaceitáveis sob a ética e o direito internacional.

Porém, do lado palestino, também temos o grupo Hamas, que comanda com punhos de ferro a Palestina, através de um regime de medo. O objetivo de Hamas é a destruição de Israel, negando o direito de existência do Estado israelense. São extremamente intolerantes, não apenas com judeus, mas com qualquer pessoa que contrarie algum dos seus princípios fundamentalistas islâmicos. Adota medidas tirânicas que passam por perseguição, prisão e tortura, chegando até assassinato. Nunca haverá possibilidade de dois Estados em paz com um grupo político no poder com este tipo de pensamento.

Fato é que o Hamas não é um governo legítimo, visto que ele suprimiu o poder da Autoridade Palestina (estrutura política de direito) através do poderio militar. Seu poder decorre do medo e do terror, submetendo vários palestinos inocentes quanto às causas do conflito – pessoas que são críticas ao Hamas e repudiam estes atos bárbaros, mas vivem sob um regime cruel terrorista. O Hamas, destarte, não representa (e não se preocupa com) o povo palestino, apenas os grupos radicais, que infelizmente são bem fortes.

Apesar de constatarmos que há animosidades decorrentes de extremos dos dois lados, não sobeja dúvidas de que as ações do Hamas são abomináveis, desumanas. Não há nada que justifique as ações detestáveis deste grupo terrorista: matança geral contra inocentes, estupros, torturas e sequestros (que, diga-se de passagem, servem para colocar reféns como escudos humanos, assim como fazem com a população inocente). Relatos específicos não faltam para aterrorizar qualquer pessoa que tenha um mínimo apreço à ética.

Entretanto, chegamos ao nível insustentável de ver pessoas de vários perfis socioeconômicos, incluindo políticos e celebridades, defendendo abertamente as ações terroristas do Hamas, como se fosse algo justificável por conta de excessos perpetrados por Israel. É inacreditável ver pessoas, ou melhor dizendo, monstros comemorando as ações perversas e execráveis do Hamas. Chegam a aventar argumentos teratológicos para justificar o terrorismo e a morte de inocentes.

Isto me faz perder a fé na humanidade! Muitos fazem isto por preconceito, outros por ideologia, alguns por sadismo, mas todas as razões que apoiem o terrorismo, especialmente contra civis, são bestiais, demoníacas.

Não se está falando que devem ser avalizados os atos extremistas de Israel (também há absurdos inaceitáveis, devem ser condenados por todas as veras), mas de maneira alguma deve ser tolerado o terrorismo do Hamas, algo infinitamente desproporcional e covarde.

Ex positis, a sensação que sinto ao enxergar toda esta situação é vergonha alheia desta mácula que sempre manchará qualquer história.

Dr. Rubens Luiz Schmidt Rodrigues Massaro
Advogado, professor e mestre em direito.

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