• 27 de abril de 2024

Cigarro eletrônico também prejudica o coração

Foto: Divulgação

Pesquisa mostra significativa adesão dos jovens; cardiologista Fernando Nobre explica riscos

 

Foi lançado em 29 de junho, a segunda edição do Covitel, o estudo de monitoramento dos fatores de risco para doenças crônicas no Brasil. A pesquisa traz informações sobre prática de atividade física, hábitos alimentares, saúde mental, estado de saúde, prevalências de hipertensão arterial e diabetes, consumo de álcool, tabagismo e poluição do ar.

A pesquisa destacou uma piora nos hábitos de saúde, especialmente entre as pessoas mais jovens, na faixa etária entre 18 e 24 anos. Um dos aspectos preocupantes alerta sobre o cenário da utilização de cigarros eletrônicos, também conhecidos como vapes, moda ente os jovens e que, conforme diversos estudos, traz malefícios à saúde. Segundo o levantamento, 23,9% dos jovens entrevistados relataram que já experimentaram cigarro eletrônico, fazem uso diário ou utilizam o produto sem ser todo dia. Em 2022, o índice era de 19,7%.

O levantamento ouviu nove mil brasileiros, entre 2 de janeiro e 15 de abril, nas cinco regiões do país, e foi feito pelo instituto Vital Estrategieis Brasil, em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e Umane (instituição filantrópica que apoia iniciativas ligadas à saúde pública).

Mesmo sendo proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009, os cigarros eletrônicos são facilmente encontrados em lojas online e físicas e, mais do que danos ao sistema respiratório, também comprometem a parte cardiovascular.

“Um dos componentes do vape é a nicotina líquida e essa substância causa o estreitamento e enrijecimento das artérias, além de todos os demais malefícios já documentados da nicotina para o organismo, como aumento do risco de trombose, AVC (Acidente Vascular Cerebral), hipertensão e infarto do miocárdio. Estudos também mostram que o cigarro eletrônico aumenta em cerca de três vezes as chances de o usuário fumar também cigarros comuns”, explicou o cardiologista Fernando Nobre.

O especialista lembra que diversos estudos já mostraram os prejuízos à saúde cardíaca com o uso desse dispositivo. Em outubro do ano passado, por exemplo, um trabalho conduzido por cientistas da Universidade de Louisville, nos Estados Unidos, e publicado na revista Nature Communications, sugeriu que o uso de cigarros eletrônicos pode desencadear arritmias (batimentos irregulares do coração) e disfunção elétrica cardíaca. Os pesquisadores utilizaram modelos animais e constataram que a exposição aos produtos químicos do vape causou batimentos cardíacos irregulares.

Nobre pontua que as descobertas demonstram que a exposição no curto prazo aos cigarros eletrônicos pode desestabilizar o ritmo cardíaco por meio de produtos químicos específicos nos líquidos eletrônicos. “O uso desses cigarros eletrônicos, assim como os tradicionais, é altamente preocupante”, falou o especialista.

Outros riscos
A pesquisa Covitel trouxe outros pontos que colocam a saúde em risco. Os pesquisadores identificaram que 40,3% dos entrevistados na faixa etária entre 18 e 24 anos estão com excesso de peso. A obesidade aumentou 90% nesse público – de 9% para 17,1%.

A análise mostrou, ainda, que 31,6% já receberam diagnóstico médico de ansiedade e 14,1%, de depressão; e 32,6% relataram episódio de consumo abusivo de álcool. O levantamento também mostrou que são as pessoas que menos consomem frutas, verduras e legumes e os que mais consomem refrigerantes e sucos artificiais.

“Temos de dar visibilidade a essa pauta para que possamos nos comunicar com a sociedade, porque esses agravos de saúde têm sido uma das maiores causas de mortalidade no Brasil”, ressaltou o cardiologista.

“Esses dados são muito relevantes para tomadas de decisões e para entendermos que a promoção da saúde é necessária, mas que deve ser feita em conjunto com o poder público e parceiros para que possamos reduzir acidentes, violências e fatores de riscos que têm atingido os jovens no Brasil”, disse Fernando Cupertino, assessor para Relações Internacionais do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde).

 Hipertensão
O percentual de hipertensão – outro sério fator de risco para o coração – também foi pontuado na pesquisa Covitel. No público com idade de 18 a 24 anos, 8,2% já tiveram esse diagnóstico (1,4 milhão de pessoas). Em 2022, eram 5,3%.

“Uma boa saúde depende dos hábitos de vida. É preciso praticar atividade física, manter uma alimentação saudável, evitar o fumo e o consumo de bebida alcoólica. São medidas simples, que todos podem fazer e que têm valor imensurável, pois evitando doenças vive-se mais e muito bem”, conclui Nobre.

Fonte:
Dr. Fernando Nobre
Fernando Nobre é Doutor em Medicina pela USP (Universidade de São Paulo), com área de concentração em Hipertensão Arterial. O especialista em cardiologia e hipertensão é professor convidado da Faculdade de Medicina da USP – Ribeirão Preto.

 

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